Por Daniel Barros, Ricardo Porto
e Saulo Guimarães
e Saulo Guimarães
Segundo o Manual da Redação da Folha de São Paulo, o jornalista precisa tomar cuidado com o uso dos verbos declarativos na reportagem. A utilização inadequada pode significar juízo de valor mesmo sem a intenção do repórter. Para evitar tal situação, recomenda-se o uso de verbos que considera “neutros” ao invés de usar aqueles que possuem carga “negativa” ou “positiva”. Deve-se lançar mão desses somente em suas acepções precisas. Para exemplificar, o Manual apresenta o seguinte quadro comparativo:
Verbos declarativos |
Neutros
| Com carga positiva
| Com carga negativa
|
Em contrapartida, o Manual de Redação do jornal O Globo não indica o melhor uso dos verbos declarativos, oferecendo apenas noções básicas de regência e significado correto de alguns deles.
Ao analisarmos duas reportagem, uma do jornal Folha de São Paulo e outra do jornal O Globo, verificamos que o segundo usa frequentemente os verbos declarativos considerados “não-neutros” pelo Manual da Redação da Folha de São Paulo. Entretanto, consideramos que tais verbos assumiram carga positiva ou negativa de acordo com o contexto em que foram colocados.
Matéria I: “Lula: tucanos não têm competência” - Jornal O Globo – Caderno O País – 10/09/10
Lula criticou as privatizações sem citar o nome do ex-presidente e afirmou que os tucanos não têm competência para governar.
Na verdade, eles não gostam e não tem competência para governar porque a única coisa que eles aprenderam a fazer foi vender o que não era deles, que era o bem público produzido por este país – criticou o presidente, que citou as estradas (…).
Nesse trecho, os verbos “criticar”, “afirmar” e “citar” foram utilizados sem juízo de valor, segundo o contexto da notícia.
Essa gente que era metida e sabida, que andava de nariz em pé, ficava todo dia de quatro diante do FMI – bateu Lula.
Consideramos, nesse caso, que o verbo “bater” foi usado de maneira inapropriada, com juízo de valor em cima da fala do presidente.
Em outro trecho, houve a presença do verbo “ironizar”, que poderia denotar juízo de valor. Porém, consideramos que o contexto justificou o uso da palavra.
- A nossa disputa com os tucanos não é porque nós temos inimizade com eles. Aqui não tem nada pessoal, é divergência política. Eles têm que explicar o pedágio daqui (Ribeirão Preto) para São Paulo: 300 quilômetros custam R$ 46 e nós do governo federal fazemos de São Paulo a Belo Horizonte, 560 quilômetros, são R$ 7,60 - comparou o presidente, ironizando os tucanos – Com esse pedágio, dá pra fazer estrada até com meio-fio de diamante.
Nas demais partes da reportagem, o jornal manteve a utilização de verbos como “dizer” e “afirmar”, considerados neutros.
Matéria II: “Candidatos discutem nova Constituinte” - Jornal Folha de SP – Caderno Poder – 28/08/10
Nesta reportagem, predominou o uso de verbos declarativos considerados neutros, seguindo a orientação do Manual da Redação do próprio jornal.
"O Brasil se tornou ingovernável com as atuais estruturas", diz Santos: "A revisão seria em apenas um ato e teria o prazo máximo de 12 meses. Seria a reforma política de que o país necessita".
As candidatas Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) declaram ser a favor da revisão constitucional.
Instada a falar sobre como fazer uma reforma política, Dilma declarou no debate Folha/UOL: "Uma das possibilidades é justamente essa (...) da Constituinte exclusiva. Porque seria uma forma de você ter um conjunto de pessoas escolhidas e eleitas sem interesse específico na matéria, porque não continuariam, para legislar sobre uma questão tão relevante como é a reforma política".
O deputado Michel Temer (PMDB-SP), vice na chapa de Dilma, detalha em que condições considera razoável haver algum tipo de revisão constitucional.
"A reforma política é a mãe das reformas (...) Propus uma Constituinte exclusiva para que possamos realizar as reformas", afirma Marina.
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