domingo, 26 de setembro de 2010

Manual de Redação

Por Felipe Mittelman

A / Há

A utilização dos termos ‘a’ e ‘há’, quando se referindo ao tempo, incita muitas dúvidas. Geralmente, a preposição ‘a’ indica o futuro: “O bebê deve nascer daqui a uma semana”. Já o verbo ‘haver’ indica o passado e pode sempre ser substituído por ‘faz’: “O bebê nasceu há uma semana”.
Contudo, a preposição ‘a’ pode indicar qualquer distanciamento no tempo, seja passado ou futuro: “A dezesseis anos da morte de Ayrton Senna, uma produtora lançou um filme sobre sua vida”; “As Olimpíadas no Brasil vão acontecer daqui a seis anos”. Para resolver a confusão, basta substituir o a dessas duas frases por ‘faz’. Se a oração perder o sentido, o ‘há’ não pode ser empregado.

Haver

O verbo ‘haver’ é uma fonte permanente de erros, e deve-se prestar muita atenção quando for empregá-lo, em especial nos seguintes casos:

– No sentido de ‘existir’ ou para designar tempo passado, o verbo é impessoal na terceira pessoa do singular: “Há muitos anos eu não a vejo”.

– Com o advérbio ‘atrás’, para não expressar a idéia de passado duas vezes: “Doze anos atrás” ou “Há doze anos”, nunca “Há doze anos atrás”.

– Para indicar distanciamento no espaço ou no tempo (passado ou futuro), é preferível usar a preposição ‘a’: “A peça estréia daqui a um mês”, “O avião voava a dois mil metros de altitude”.

– Quando utilizado em locução verbal, use o verbo no pretérito imperfeito (‘havia’ no lugar de ‘há’): “Estava morando ali havia cinco meses”, e não “Estava morando ali há cinco meses”.

– Quando ‘haver’ for o verbo principal em uma forma composta, o auxiliar também se torna impessoal: “Poderá haver dúvidas”.

A fim de / Afim

A locução ‘a fim de’ significa com o objetivo de: “A loja abriu durante o feriado a fim de aumentar as vendas naquele mês”. O adjetivo ‘afim’ indica afinidade, parentesco: “Esses são assuntos afins”.

Assistir

O verbo é utilizado mais usualmente no sentido de ‘ver’, ‘olhar’. Neste caso, ele é transitivo indireto e pede a preposição ‘a’ (ainda que coloquialmente seja utilizado como transitivo direto): “assistir à televisão”. Contudo, ele apresenta mais dois sentidos: de ‘prestar assistência’ e de ‘residir em algum local’. No sentido de prestar assistência é sempre transitivo direto: “O médico assistiu o doente”. Já no sentido de morar, ele é transitivo indireto e pede a preposição ‘em’: “Joãozinho assiste no Rio de Janeiro”.

Dia a dia / Dia-a-dia

Sem o hífen, significa o ‘dia após dia’, como em “Dia a dia, a menina ia ficando mais inteligente”. Já com o hífen, significa o substantivo: “O dia-a-dia do açougueiro era cansativo, mas prazeroso”.

Hífen

O uso do hífen varia de acordo com os prefixos (ou falsos prefixos) e as palavras subsequentes envolvidas:

– Vogais iguais: Usa-se o hífen quando o prefixo e o segundo elemento juntam-se com a mesma vogal.          Ex: “micro-ondas”, “anti-inflamatório”. A exceção são os prefixos ‘co’, ‘pro’, ‘pre’ e ‘re’, que se juntam ao segundo elemento, ainda que este inicie pelas vogais o ou e: “cooperar”, “preenchimento”.

– Vogais diferentes: Não se usa o hífen quando os elementos se unem com vogais diferentes. Ex: "autoescola", "semiaberto".

– Consoantes iguais: Usa-se o hífen se a consoante do final do prefixo for igual à do início do segundo elemento. Ex: "inter-racial".

– Se o segundo elemento começa com 's' ou 'r': Não há hífen quando o segundo elemento começa com s ou r. Nesse caso, duplicam-se as consoantes. Ex: "minissaia", "ultrassom".           Contudo, a regra anterior se sobrepõe a essa: "super-resistente".

– Se o primeiro elemento, terminado em 'm' ou 'n', unir-se com vogais e 'h', 'm' ou 'n'. EX: "circum-navegação", "pan-hispânico", "pan-americano".

– ‘Ex’, ‘sota’, ‘soto’, ‘vice’: Usa-se sempre o hífen com estes prefixos. EX: "ex-presidente", "vice-rei".

– 'Pré', 'pós', 'pró': Usa-se hífen com estes prefixos, se tônicos e acentuados com autonomia. Ex: "pré-escolar", "pós-graduação". Se os prefixos não forem autônomos, não haverá hífen: "predeterminado".

– O prefixo termina em vogal ou 'r' e 'b' e o segundo elemento se inicia com 'h'. Ex: "anti-herói", "super-homem". São duas as exceções para essa regra: as grafias consagradas, como"desumano" e "reabilitar", e se houver perda do som da vogal final, quando é preferível não usar hífen e eliminar o h: "clorídrico" (cloro + hídrico).

– Sufixos de origem tupi: Usa-se o hífen com sufixo de origem tupi, quando a pronúncia exige distinção dos elementos. Ex: "Anajá-mirim", "capim-açu".

Vale a Pena

O termo ‘valer a pena’ incita dúvidas quanto à utilização da crase. O correto seria ‘valer a pena’ ou ‘valer à pena’? Para encontrar a resposta, basta substituir a palavra ‘pena’ por outra no masculino, como ‘sacrifício’. Daí é possível perceber que o correto é sem crase, pois seria ‘vale o sacrifício’ e não ‘vale ao sacrifício’.

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