Autor de livro que inspirou o filme ‘Tropa de Elite 2’ revela que vivenciou cenas retratadas nos bastidores do mundo político
POR: PEDRO DE FIGUEIREDO
“Se eu não tivesse tido oportunidade de participar do mundo político, não me sentiria bem para escrever sobre isso”. Com esta frase, o sociólogo Luiz Eduardo Soares, autor do livro “Elite da Tropa 2”, que inspirou o segundo filme do sucesso “Tropa de Elite”, resumiu a experiência de escrever uma narrativa que põe em xeque o papel do Estado diante das milícias. A afirmação foi dada na última quinta-feira (4) em debate na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O sociólogo, que foi Coordenador de Segurança do estado do Rio de Janeiro entre 1999 e 2000 na gestão de Anthony Garotinho e Secretário Nacional de Segurança Pública durante o primeiro ano do governo Lula, afirmou que o fato de ter presenciado situações de corrupção no campo político foi fundamental para que adquirisse experiências suficientes para escrever o livro.
Entre outros assuntos, Luiz Eduardo disse que a questão das milícias no Rio de Janeiro ainda é muito recente. Segundo ele, até as eleições de 2006, candidatos abraçavam milicianos, diminuíam o tamanho do problema e consideravam os grupos armados como “auto-defesa comunitária”. O maior exemplo disso para o autor foi o afastamento de um delegado que combatia este tipo de crime.
“Apenas quatro milicianos foram presos até 2006 no Rio de Janeiro e o delegado que os prendera foi deslocado para uma delegacia menor, como forma de punição”, conta o estudioso.
Para o autor, o filme, reconhecido como sucesso de público e crítica, é um alerta para a população, já que os grupos armados estão se infiltrando cada vez mais em comunidades carentes. No longa, as caricaturas de pessoas reais, disse ele, seriam formas de perturbar o público, para que seja despertada uma atenção maior em relação ao real.
“Estamos sob um quadro muito grave: as milícias estão crescendo nas comunidades mais vulneráveis e gerando um número cada vez maior de inocentes mortos. E isto é mostrado no filme”, diz Luiz Eduardo, que complementa: “Em cada cidade, o repertório de lembranças de cada pessoa faz com que ela associe os personagens do filme a personagens reais, gerando, então, um questionamento”.
Autor revela que Capitão Nascimento não seria personagem principal
Em meio a discussões da área de segurança pública, Luiz Eduardo Soares, que além de escrever os dois livros precursores dos filmes participou da produção dos longas, revelou um detalhe desconhecido da maioria do grande público. O popular Capitão Nascimento não seria a estrela principal da obra.
Os filmes da trama teriam como personagem principal o “aspira” André Ramiro. No entanto, após escutar o livro na voz de Wagner Moura, que fora convidado a gravar a obra com o objetivo de levar o áudio para rodas de debate, Luiz Eduardo percebeu que o capitão merecia mais destaque.
“O Capitão Nascimento só teria alguma importância aos 40 minutos do filme”, conta o sociólogo. E revela: “Quando decidimos que o Nascimento seria o protagonista, já estava tudo filmado. Tivemos que remontar as cenas para que o enredo do filme ficasse estruturado do ponto de vista do personagem do Wagner”.
O debate para acadêmicos foi comemorativo ao lançamento do livro. O evento foi promovido pelo Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro e contou com a presença do sociólogo, do cientista político Renato Lessa, da jornalista Cristiane Costa e do professor de direito José Eisenberg.