domingo, 21 de novembro de 2010

Sugestão de Pauta - Política da juventude mostra a cara do que está por vir

por Roberta Dittz

Depois de 26 anos de democracia o brasileiro está cansado de "politicagem" mal feita. Vamos abordar o impacto da política feita por Marcelo Freixo, jovem de um partido rescém-nascido que ficou entre os cinco primeiros na última eleição como deputado estadual. Analisar que tipos de ações ele tomou, a ponto de chamar a atenção da população, indo além da propaganda e da venda indireta de votos.
Aproveitamos o gancho, para mostrar as práticas comuns dos políticos mais antigos em épocas próximas as eleições, comparando se essas práticas ainda são comuns nos políticos jovens. Falar que o ficha limpa pode trazer novos candidatos para a política brasileira, o que renovaria os governantes.
O objetivo seria mostrar que Marcelo Freixo parece ser exemplo de uma nova tendência na política atual. Uma análise comparativa entre as áreas de atuação dos deputados há 20 anos e hoje em dia poderia ser feita a fim de enfatizar o objetivo. 

quarta-feira, 10 de novembro de 2010


 Como disse uma moradora, a subida teve que ser a lá "São Canela"


Vista do "Pedrão", um dos pontos turísticos do Dona Marta

 
 As crianças do Dona Marta
 


 
Me guiaram quando fiquei para trás 

domingo, 7 de novembro de 2010

Baseado em fatos reais

Autor de livro que inspirou o filme ‘Tropa de Elite 2’ revela que vivenciou cenas retratadas nos bastidores do mundo político

POR: PEDRO DE FIGUEIREDO

“Se eu não tivesse tido oportunidade de participar do mundo político, não me sentiria bem para escrever sobre isso”. Com esta frase, o sociólogo Luiz Eduardo Soares, autor do livro “Elite da Tropa 2”, que inspirou o segundo filme do sucesso “Tropa de Elite”, resumiu a experiência de escrever uma narrativa que põe em xeque o papel do Estado diante das milícias. A afirmação foi dada na última quinta-feira (4) em debate na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O sociólogo, que foi Coordenador de Segurança do estado do Rio de Janeiro entre 1999 e 2000 na gestão de Anthony Garotinho e Secretário Nacional de Segurança Pública durante o primeiro ano do governo Lula, afirmou que o fato de ter presenciado situações de corrupção no campo político foi fundamental para que adquirisse experiências suficientes para escrever o livro.

Entre outros assuntos, Luiz Eduardo disse que a questão das milícias no Rio de Janeiro ainda é muito recente. Segundo ele, até as eleições de 2006, candidatos abraçavam milicianos, diminuíam o tamanho do problema e consideravam os grupos armados como “auto-defesa comunitária”. O maior exemplo disso para o autor foi o afastamento de um delegado que combatia este tipo de crime.

“Apenas quatro milicianos foram presos até 2006 no Rio de Janeiro e o delegado que os prendera foi deslocado para uma delegacia menor, como forma de punição”, conta o estudioso.

Para o autor, o filme, reconhecido como sucesso de público e crítica, é um alerta para a população, já que os grupos armados estão se infiltrando cada vez mais em comunidades carentes. No longa, as caricaturas de pessoas reais, disse ele, seriam formas de perturbar o público, para que seja despertada uma atenção maior em relação ao real.

“Estamos sob um quadro muito grave: as milícias estão crescendo nas comunidades mais vulneráveis e gerando um número cada vez maior de inocentes mortos. E isto é mostrado no filme”, diz Luiz Eduardo, que complementa: “Em cada cidade, o repertório de lembranças de cada pessoa faz com que ela associe os personagens do filme a personagens reais, gerando, então, um questionamento”.

Autor revela que Capitão Nascimento não seria personagem principal
Em meio a discussões da área de segurança pública, Luiz Eduardo Soares, que além de escrever os dois livros precursores dos filmes participou da produção dos longas, revelou um detalhe desconhecido da maioria do grande público. O popular Capitão Nascimento não seria a estrela principal da obra.

Os filmes da trama teriam como personagem principal o “aspira” André Ramiro. No entanto, após escutar o livro na voz de Wagner Moura, que fora convidado a gravar a obra com o objetivo de levar o áudio para rodas de debate, Luiz Eduardo percebeu que o capitão merecia mais destaque.

“O Capitão Nascimento só teria alguma importância aos 40 minutos do filme”, conta o sociólogo. E revela: “Quando decidimos que o Nascimento seria o protagonista, já estava tudo filmado. Tivemos que remontar as cenas para que o enredo do filme ficasse estruturado do ponto de vista do personagem do Wagner”.

O debate para acadêmicos foi comemorativo ao lançamento do livro. O evento foi promovido pelo Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro e  contou com a presença do sociólogo, do cientista político Renato Lessa, da jornalista Cristiane Costa e do professor de direito José Eisenberg.

O jornalismo do futuro


Indicado por: Cristiane Costa


segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Fórum promove mesa-redonda sobre segurança pública


Nesta quinta, dia 4, o Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ abriga a mesa redonda com o autor do livro “Elite da tropa 2”, Luiz Eduardo Soares, que também é professor, antropólogo e ex-coordenador de segurança do Rio de Janeiro.
Ainda participam do debate os seguintes professores: Cristiane Costa, da Eco/UFRJ, Renato Lessa, da Faculdade de Ciências Políticas da UFF, e José Eisenberg da Faculdade de Direito da UFRJ.
O encontro acontece às 19h no Salão Dourado do FCC, Avenida Pasteur, 250- Urca.
entrada é franca. Não perca!

domingo, 31 de outubro de 2010

Com Fé em Deus, Nada é Impossível

Segunda, 20 de setembro. Uma manhã fria no subúrbio. O plano era ir até o Campo de Sant’Anna. Lá perguntar a qualquer mendigo em potencial a direção da rua Santa Luzia. É claro que eu sabia onde era a rua e isso era apenas um bom pretexto. Começar a conversa & fazer o trabalho sujo. Simples assim. Posto o velho casaco vermelho e a calça jeans azul, parti rumo ao cinza desconhecido.

Sabe quando você sai de casa e um mendigo está a poucos metros de você? Foi assim. Em qualquer outro dia seria normal. No máximo talvez, eu sentisse medo. Hoje não. Trajava um moletom laranja e uma calça azul escuro. Ia sujo como todos os mendigos. A barba por fazer com fiapos brancos. Levava nas costas um saco de lixo desses azuis clarinho com suas coisas, como se fosse um papai noel. Na esquina da pizzaria, a poucos metros de onde eu moro. E agora? O destino havia posto no meu caminho um confortável acaso, mas com o qual eu não sabia como lidar. O jeito foi ser presa. Com o passo mais lento, fui caminhando ao seu lado por algum tempo. Ia quase desistindo, indo adiante, quando ele toma a iniciativa e começa a entrevista pela resposta para a pergunta que eu não precisei fazer.

_Você sabe que o motorista do ônibus aprontou uma comigo? Era para eu ter saltado em Madureira, ali na Igreja de São Brás. Você sabe onde fica a Igreja de São Brás? Ali do outro lado? Pois então, o cara me deixou lá em Rocha Miranda, naquela praça lá e eu tive de vir andando de lá até aqui. Não custava nada ter me deixado no ponto certo.

Estamos em Madureira, esquina da Estrada do Portela com a Rua Guarapari. Para a noção dos distintos - certamente leigos em matéria dos subúrbios da Central - a distância entre esse ponto e a citada procedência de nosso amigo talvez seja algo como o mundo que há entre o Flamengo e Copacabana. Um perto que é muito longe, um longe que é meio perto. Tomei as dores do coitado:

_ Esses motoristas não têm amor à profissão, não fazem seu trabalho direito. Com tantos aí querendo trabalhar e eles nessa sem-vergonhice. Raramente digo essa palavra. Ossos do ofício. Tudo pela entrevista.

_ O pior é que eu estou com o dinheiro da passagem aqui, está aqui no meu bolso. Mas a gente tem que ver o lado deles também, muitas vezes trabalhando em más condições (o meu mendigo fazia bom uso das leis da concordância e tinha um certo sotaque de interior, não caipira mas perfeccionista). A maioria, graças a Deus, é boa, trata a gente bem. Só alguns que desrespeitam.

_ O senhor está indo para onde? – pergunto. Estou indo para a Igreja de São Brás, eles distribuem uma comida lá. É gente muito boa, de muito bom coração. Rezo muito por todos eles. Por eles e por todo mundo. Rezo pelo bem de todo mundo.

Me impressiona como alguém que passa por tantas dificuldades possa querer o bem daqueles que deveriam ajudá-lo. Definitivamente, trata-se aqui de um homem de bem. Um homem de bem é aquele que quer o bem sem importar a quem. Seguimos conversando. Ele me conta mais uma de suas histórias de fé e oração.

_Você sabe que ontem eu estava com uma dificuldade de evacuar tão grande que pensei que estava com as fezes endurecidas - ele disse bem assim “fezes endurecidas” e confesso que aí me segurei para não rir.

_ Mas eu rezei o salmo 91, pedi a Deus, ele me atendeu e tudo ficou bem. Para quem como eu não se lembra, o salmo 91 é aquele do “Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti”. Uma boa para prisão de ventre.

_Você sabe que esse ônibus que está vindo aí, esse 294, lá na Pavuna é terrível, ele também não para.

O ônibus que vejo vindo é um 261, Marechal Hermes - Praça Quinze, longe de passar perto da Pavuna. Comecei a desconfiar da sua sanidade. Depois, percebi, por puro preconceito.

_ Ontem eu fiz sinal para o ônibus, ele parou, subiram as três pessoas que estavam na minha frente e na minha vez, ele arrancou.

Covardia – digo. Estamos chegando ao fim do nosso caminho – penso. Você anda bem também. Digo a ele que estou indo pegar o trem da Central na estação de Madureira.

A passarela de Magno dá acesso ao outro lado de Madureira e aqui devia ser o ponto final da nossa conversa. Cheguei a ensaiar uma breve despedida, mas ele me ignora e acompanha. Decido seguir. Agora estamos em frente à uma lanchonete na avenida Ministro Edgar Romero.

_ Esse Mc Donald’s tem no Brasil todo? No mundo todo, eu acho. – respondi.

_Será que eles trabalham de carteira assinada? Devem trabalhar sim. – falei.

_ É americano, né? É sim - disse-lhe.

_ Então deve ser tudo direitinho, dentro da lei. Mais à frente, uma barraquinha de petiscos e cerveja segue aberta após a noite de domingo.

_ A bebida é um mal terrível - diz .

_Destrói a vida de muita gente mesmo, graças a Deus não bebo – respondo.

_Eu também não, mas você sabe que ontem o demônio me tentou? Me deram uma comida envenenada. Antes, deram uma bebida e depois um bolinho, um prato de comida, que se eu comesse tudo morria. A minha neta estava comigo e tudo. Foi terrível.

_ Se podem fazer o bem, por que fazem o mal, né? – lhe pergunto e me pergunto com toda sinceridade.

_ Tem muita maldade por aí, ele me diz. Mas tem muita bondade também, graças a Deus. Com fé em Deus, nada é impossível.

Atravessar a Carolina Machado é sempre um teste de atenção. Ônibus e carros seguem seu fluxo rumo ao Centro da cidade, seus trabalhos e suas angústias. Ele é quem me diz o momento certo de fazer a travessia. Vou em direção à velha escadaria e ele avisa:

_ Não, vamos pela escada rolante. E fomos.

_ Tá vendo aquela igreja ali do outro lado da linha do trem? A Deus é Amor? Ali o pastor prega até quando só tem duas pessoas.

Pouco antes de atravessar, ele estava me contando de igrejas em que pastores se negam a pregar na falta de fiéis. Igrejas boas e igrejas más, tal qual as pessoas. Subimos a escada enquanto ele me conta das boas igrejas, onde os pastores sempre pregam e os fiéis não lhe tratam mal.

É aqui que eu deveria ficar. Mas penso duas vezes e sigo com o andarilho sem nome em seu caminho tortuoso, cheio de trevas e de luz, pelas ruas desertas e serenas de Madureira.

Do lado de lá do bairro, de quem atravessa a passarela da estação do ramal da Central, ele segue me falando das suas peregrinações por esses templos. O meu mendigo é um homem, acima de tudo, de muita fé. Ele vai cumprimentando as pessoas que conhece, que o respondem ou não. Um vendedor de doces e outro. Pediu-me para segurar uma peça de roupa enquanto arrumava suas coisas. Vejo que sua bolsa está cheia de vestes, sujas ou não.

_ Tem igreja em que os fiéis olham torto para você. Eles estão ali, rezam, mas não gostam de ver você lá. Você sabe que teve uma igreja em que o pastor era da nossa cor, irmão, mas quando eu fui falar com ele, ele não gostou não. Brigou comigo.

Irmão: paro para pensar. Somos mais parecidos do que qualquer palavra possa descrever nesse momento. Nossa cor é muito mais que melanina, é uma história em comum. Irmão: essa palavra me comove e me conforta. Às vezes nos esquecemos que somos todos iguais. São momentos como esse que nos recordam a lição básica que precisamos aprender. Somos todos irmãos, rezando um pelos os outros nesse mundo de incertezas.

Ali fica a igreja do Poder de Deus. Tem culto às 7h, todos os dias. Que bom, logo cedo – disse eu. O senhor vai ficar aí? – pergunto.

_ Vou, vou sim. Chegamos à frente da casa com telhas de alumínio pintada de azul. Há vários banners na parede, com fotos do apóstolo Valdemiro e horário dos cultos. Aqui, tem culto às 8h, 15h e 18h – ele lê para mim. Me ajuda a arrumar as coisas aqui – seguro pela última vez a sua sacola. A alça rasgou.

_ Pois é – digo. A sacola esteve esse tempo todo muito cheia e isso era inevitável – penso. Um misto de tristeza e compaixão – sinto. Cai lá de dentro um trapo cinza sujo de amarelo, que ao repor na bolsa, sinto que encobre um chinelo.

_ Deus lhe abençoe – ele me diz.

_ O senhor também. Onde o senhor mora? – pergunto.

_ Na Nova Holanda.

_ Qual é o nome do senhor mesmo? Luís Fernando – diz.

_ Tudo de bom pra você aí, Luís Fernando. E com um tapinha nas costas me despeço.

Me afasto a passos breves e calmos, tal qual me aproximei. Quase chegando na esquina, um homem gordo que nunca tinha visto me cumprimenta: Fala garotinho! Boa aula! Não sei se a boa aula era a que estava por vir ou a que eu havia tido. Uma aula de fé, perseverança, generosidade, humildade e tantos outros sentimentos bons. A flor nasceu no asfalto: em meio à podridão da cidade e a ressaca da segunda-feira, conheci Luís Fernando, o meu breve amigo. Nunca saberei se fiz uma entrevista ou se fui entrevistado. Ele me deu todas as respostas e fez nascer outras perguntas. Por isso, lhe serei eternamente grato. E certamente nunca mais reconheceria Luís Fernando se o visse por aí, andando pela rua. Como o homem gordo, que meu desejou bom dia mas eu nunca vi. Reconheceria talvez o acaso, o fortuito que faz com que as palavras às vezes digam muito mais do que deveriam. Boa aula! – ele disse. Pela Domingos Lopes não tardo a chegar à estação. Na plataforma, ouço dobrarem os sinos. Sete horas. Tudo de bom pra você aí, Luís Fernando! Que Deus o abençoe, abençoe a você e a todos nós. Amém.

Saulo Pereira Guimarães